terça-feira, 1 de julho de 2008

Nódoa nº 1

É um dos meus favoritos: Pedro Caldeira.

Este é o exemplo acabado de que há filhos da puta em todos os estratos da nossa sociedade e que, regra geral, nunca estão sós.

Também me parece um exemplo acabado de uma certa justiça poética que acaba por punir, não só o próprio mas também os que se armaram em espertos e que queriam ganhar dinheiro fácil.

Recordemo-nos um pouco desta história: década de 90, um corrector de bolsa bem sucedido e homem do meio do nosso pseudo-jet-set ou jet-set de trazer por casa, que já tinha com que dar de comer aos filhos e família... resolve tornar-se ganancioso.

E resolve aproveitar-se dos contactos que já possuía - que no meio social em que se movimentava, quer no meio dos seus negócios e junto do seu próprio portfolio de clientes - para lançar um esquema que tinha tanto de milionário como de arriscado: trabalhar com margens de lucro acima das praticadas pelos bancos nas suas aplicações financeiras.

Na prática, a senhora ou o cavalheiro depositavam nas suas mãos quantias significativas de dinheiro que eram entretanto aplicadas pelo senhor corrector, com retornos de lucro bastante razoáveis ao fim de um relativo curto período de tempo.

Uma espécie de esquema da pirâmide, punido por lei, fortemente lucrativo, mas mais sofisticado.

O que o senhor corrector tinha que ir garantindo era uma forte circulação de dinheiro por parte dos seus clientes, de modo a apresentar dividendos no espaço de algumas semanas ou poucos meses, mantendo-os interessados em continuar a investir aquele dinheiro (ou ainda mais) nos seus préstimos. Com o dinheiro de uns ía pagando dividendos a outros e arrecadando a sua margem.

Hoje, quando penso nisto, penso que a grande culpa do sr. Pedro Caldeira residiu em algo tão simples como uma falha de comunicação: então não é que ele se esqueceu de dizer aos seus clientes, entre outras coisas, que:

- Se toda a gente exigisse o seu dinheiro de volta em simultâneo, ele não poderia pagar dividendos a ninguém, já que se limitava a puxar a manta de um lado, descobrindo os pés ou a cabeça consoante os casos;

- A ideia final era, quando atingisse uma quantia avultada do dinheiro que lhe era confiado, provavelmente iria esquecer-se de continuar a pagar dividendos e iria partir para parte incerta.

Pois é... como dizia o outro: "Não explicam..."

Claro que chegou uma altura em que este namoro terminou e o senhor corrector foi apanhado.

Entre as suas vítimas - e aqui é que a doutrina se divide - contam-se várias aves raras do pesudo-jet-set e um cidadão (nessa altura) acima de qualquer suspeita, chamado Carlos Cruz.

Recordam-se dele: apresentava uns programas na televisão, onde apareciam adultos a escolher coisas, mas isso foi antes de se dedicar ao público infantil... fica para outra ocasião.

Estima-se que o sr. Cruz tenha ficado a arder com uma quantia que oscilará provavelmente entre os 10 000 e os 30 000 contos (entre 50 000 e 150 000 euros).

Quem diria que ao fim de apenas alguns anos, o sr. Caldeira e o sr. Cruz poderiam partilhar uma mesma espécie de desfecho, ainda que um relacionado com factos mais tenebrosos que o outro?

Pessoalmente, fiquei muito contente com a forma como tudo se passou.

A investigação funcionou; a justiça funcionou; houve arguido; o arguido transformou-se em réu; o réu foi condenado; e cumpriu pena.

E os tipos que quiseram fazer fortuna fácil foram enrabados a seco, sem beijo na boca, ficaram a arder com uma pipa de massa e foram motivo de chacota de muita e boa gente!

Ai estás a arder?... Halibut para ajudar a passar a assadura do rabinho...


Está na hora de aplicar o tira-nódoas.


Fiquem bem,

J.







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