quarta-feira, 23 de julho de 2008

Pulseiras electrónicas


Penso que foi no final da semana passada - ou no início desta - que vi uma reportagem no canal televisivo SIC a propósito de reclusos em prisão domiciliária.

Como não vi desde o início, ainda assim vou correr o risco de ser injusto mas, pela forma como a peça foi conduzida não pude conter uma ou duas lágrimas de emoção:

Coitadinhos dos reclusos que usam pulseira electrónica!

Como é possível que um cidadão respeitador que cometeu um crime, enquadrável numa moldura penal que lhe permite o cumprimento de uma pena de 4 anos, designadamente crimes estradais, estar condenado a um castigo tão perverso?...

Vamos lá a ver se percebi bem e, se não, por favor alguém que me ajude, mas fiquei com a ideia - pelo que foi dito e mostrado -, que o senhor em questão passa o dia a "jogar às cartas com os amigos", a tomar conta do(a) próprio(a) filho(a) e a navegar na net - vai na volta, com um computador roubado, adquirido com uma senha do "Novas Oportunidades", isto é, pago por nós.

Com o calor que tem estado e os níveis de ozono bastante elevados, eu diria até que, no fresquinho do lar é que se está bem!...

Ou seja:

- NÓS, os otários que não podemos desviar-nos do cumprimento de todas as obrigações decorrentes de um estado de direito (com um "d" cada vez mais minúsculo), designadamente, cumprimento das regras do código da estrada, dos prazos de resposta a solicitações do Estado, de que se destaca naturalmente, o pagamento de contribuições;

- Que somos controlados no nosso horário de trabalho com livros de ponto, cartões magnéticos, impressões digitais; que trabalhamos e por vezes nem reconhecimento desse trabalho existe;

- Que sentimos as dificuldades naturais de um país POBRE que somos, apesar de muitos idiotas com baixa auto-estima viverem na ilusão (cf. meu post iphone), agravado por uma conjuntura internacional que nos penaliza mais, devido à nossa pequenez, que a outros estados;

- Que vimos reduzirem-se cada vez mais os direitos consagrados constitucionalmente;

- Que, enquanto somos e não somos extintos (nós, a classe média), carregamos às costas o país, com largas dezenas de milhar de inúteis e parasitas que vivem (e melhor do que se pensa! Um destes dias vou dar-vos alguns números) à conta do Rendimento Social de Inserção e demais protecções sociais, que cometem crimes e ficam em casa a ver televisão e a surfar na internet;

Como é que NÓS podemos aceitar isto com naturalidade?!

Como é que as pessoas lesadas pelo indivíduo que apareceu na reportagem desta televisão decadentezinha que é a SIC podem aceitar este tipo de situação sem se sentirem profundamente injustiçadas?

Está-me cá a parecer que os reclusos somos nós...

Não estou a dizer que é bom estar-se preso, seja por que forma for; mas deixem-me partilhar convosco o seguinte, dizendo desde já que não há nenhuma razão para que estes indivíduos não cumpram serviço comunitário à séria:

Num determinado estado norte-americano (não me recordo qual), existe um Director de Estabelecimento Prisional feminino que foi e continua a ser alvo de forte contestação por parte de grupos que alegam a defesa dos direitos humanos. Ora vamos lá ver de que se queixam estes grupos:

O sr. Director proibiu o uso de roupa própria de cada reclusa, substituindo-a por uniformes de cor neutra em pano cru e proibiu, entre outras coisas, o uso de penteados e maquilhagem por parte das referidas mulheres.

A explicação é bastante simples: o condenado deve associar à passagem pela prisão a ideia de uma experiência desagradável. Se o(a) deixarmos fazer a sua vida dentro da prisão com uma normalidade semelhante à que teria no exterior, facilmente reincidirá no crime e correrá o risco de voltar para cá.

Quanto aos grupos que se mostram chocados com isto, a fazer lembrar uma certa associação auto-proclamada ambientalista, que quer o respeito pelo ambiente para os outros (vão até à área protegida da serra da Arrábida e digam-me lá se não mora lá um senhor destes numa vivenda que não se percebe como ou com que autoridade - moral e não só! - a construiu ali. E se forem até Grândola, perguntem porque razão um familiar desse senhor faz o que lhe apetece em termos ambientais - a começar pela própria casa - denunciando os outros que querem fazer o mesmo...).

Desculpem lá este parêntesis, mas para grupos destes, governantes destes e televisões destas, permito-me parafrasear um grande Cidadão português, filantropo e homem de negócios:

Fuck You!

Joe Berardo


Fiquem bem,

J.

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